CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ - CESUMAR
CAMPUS DE GUARAPUAVA
PÓS-GRADUAÇÃO
O ANALFABETO POLÍTICO:
ANÁLISE TEXTUAL CRÍTICA DO TEXTO DE BERTOLD BRECHT
Trabalho elaborado pelas alunas Josiane Wirmond e Maria Luiza Camillo, acadêmicas do curso de Pós-Graduação em Atendimento Educacional Especializado – Educação Especial e Inclusiva, para obtenção de nota parcial nas disciplinas de Fundamentos Históricos e Epistemológicos da Educação e suas Implicações para Prática Pedagógica e Política Pública – Legislação e Estrutura da Educação.
O ANALFABETO POLÍTICO:
ANÁLISE TEXTUAL CRÍTICA DO TEXTO DE BERTOLD BRECHT
"Encontrou-se, em boa política, o segredo de fazer morrer de fome aqueles que, cultivando a terra, fazem viver os outros."
(Voltaire)
Este poema escrito pelo alemão Bertold Brecht trata de uma das grandes mazelas que assola a vida em sociedade, ou seja, a falta de consciência e consequentemente, de participação dos sujeitos – enquanto cidadãos – da vida pública e política que permeia sua existência.
Além de tratar o analfabetismo político que pode ser definido justamente por uma falta de interesse, Brecht trata também das consequentes implicâncias eminentes desta maneira – alienada – de existir socialmente, representados por exemplo, pela privatização, que inicialmente acomete as empresas prestadoras de serviço, as instituições públicas e que chega inclusive, ao ato do conhecimento.
Influenciado pelas ideias marxistas, Brecht trava neste poema uma relação paralela entre a falta de interesse pela política e o caos da existência social e econômica.
A democracia, tal como a concebemos, exige a alfabetização política da população, o que nada tem a ver com doutrinação ou submissão, mas tem tudo a ver com informação, vontade em participar e decidir, conhecimento, aumento da autonomia e da capacidade crítica de cada um. O próprio conceito de democracia não pode ser interpretado longe da premissa de participação coletiva. Democracia é o governo para o povo e pelo povo.
Entretanto, o que acontece por vezes, é o enaltecimento da ideia de democracia para o povo, em detrimento da ideia de democracia pelo povo. O que parece soar tao comum, numa situação que chega a ser de banalização, implica em resultados duradouros e longínquos. É necessário que cada um conheça seu lugar e seu papel dentro do processo e ada atividade política. Não é porque não exerço um cargo público ou administrativo que não me caracterizo como um ser politico.
A política em questão, não é, necessariamente, a política partidária, de esquerda e direita, mas a cotidiana. Temos a capacidade e a necessidade de sermos políticos diariamente, em todas as nossas atividades e decisões. Somos políticos quando pensamos, quando escolhemos os ideais e também as ideologias que marcam-nos enquanto seres humanos, quando compramos ou adquirimos algo, quando fazemos opções de formação, emprego, moradia...enfim, em todos os momentos.
Brecht tem a intenção de suscitar pensamentos como este em “O analfabeto político”. O fato de não ouvir, não falar e não participar determina de maneira negativa a existência humana, ou pelo menos,a marca pela passividade. O analfabeto político não importa-se com o veto ou então com o decreto de leis, por exemplo, mas posteriormente, reclama – pelo simples fatos de reclamar – do preço de sua comida ou então, dos serviços básicos dos quais necessita. Ele não percebe que a escola, a confiança depositada em representantes políticos implica diretamente em suas condições básicas de existência.
Quando o analfabetismo político predomina é natural que tudo pareça igual e seja visto com a mesma indiferença. A vida é a mesma, os acontecimentos mesmo com datas diferentes, soam semelhantes e os problemas deixam de ser vistos com os olhos da solução.
O aumento da abstenção eleitoral, ou seja, da não participação na vida cultural, cívica e política, o encolher de ombros face ao que nos é comum, são comportamentos correntes de muitos cidadãos. Não é de estranhar que uma maioria crescente da opinião pública vá encolhendo os ombros e dizendo que os políticos são todos iguais, ou, que nada sabem ou nada querem saber de política. O poder dominante, para dominar, precisa que predomine o analfabetismo político. Se é confortante para o sujeito abster-se e distanciar-se da política, é mais comodo ainda, para aquele que ocupa um cargo público.
Se “não cobrar soa confortável, não ser cobrados, soa mais ainda.
Sob outra perspectiva, pode-se analisar a questão da educação brasileira e a ampliação de vagas dentro da modalidade de ensino superior. Um acaso mais especifico, importante sobretudo, para aqueles que almejam tal formação, entretanto, os resultados de conquistas como esta emanam da consciência, da força e da reivindicação de todos. O desejar tal serviço e tal direito, é por primazia, uma ação política.
Continuando, Brecht aborda a possibilidade de mudança, que para muitos parece impossível. O analfabeto político prefere considerar que a política é apenas um debate no jornal das oito, um amontoado de panfletos ou “santinhos” a serem distribuídos em período eleitoral e uma cara simpática na foto de uma urna eletrônica. Assistem aos casos de corrupção com a mesma consciência de quem vê uma novela, não preocupam-se se quer em conhecer ou acreditar que exista algum outro significado para a política e por isso não distinguem conceitos básicos, como direito e dever, governo de estado, ordem pública e privada.
Não existe nada mais equivocado do que se intitular um ser, um sujeito apolítico, como se pudesse ser alheio aos fatos que o cercam. Se posicionar "apoliticamente" não é nada mais do que concordar com as coisas como são. Todos já ouvimos pelo menos uma vez a afirmativa que que não somos neutros (não conseguimos atingir a neutralidade) em nossas ações, conscientes disso ou não, pois inclusive e, sobretudo, escolher não agir, participar, ouvir, reclamar, falar, já constitui-se enquanto um posicionamento.
Em poucas palavras, usam e abusam da comodidade de acreditar que a política é feita apenas e glamorosamente pelos políticos (especialistas e administradores) esquecendo do fato de que todos nós a delimitamos e construímos.
Nesta mesma perspectiva é válido lembras a importância do papel do Estado nesta situação. O Estado configura-se como a representação material do poder, que é depositado nas mãos, pensamentos e atitude de alguns, em prol e em nome de outros. Entretanto, na lógica liberalista em que vive-se atualmente, é melhor para tal representante que o povo mostre-se apolítico, analfabeto nas questões públicas. O Estado tende a afastar-se da responsabilidade social que tem sobre os sujeitos, e a não participação do povo tende, paralelamente a permitir tal processo.
O analfabeto político mal sabe que tudo o que é feito na política o atinge diretamente e que a atual situação política do cenário nacional só poderá ser transformada quando a população deixar de lado a mania do “não querer saber” que faz com que o país fique a mercê de políticos corruptos que massacram a ética por saberem que o destino final de suas ações é a impunidade. Ademais, esquecem que intitular alguns como corruptos ou ainda, injustos e desprovidos de memórias – no tocante as promessas – não é suficiente para dizer-se ativo e crítico.
Seguindo, Brecht aborda também o conformismo e a aceitação. O hábito, não precisa, arbitrariamente, ser tratado como o natural e o imutável. Todas as situações e premissas são passiveis a mudança, entretanto, mudança é uma processo caracterizado pela consciência e pela reflexão. Nas palavras do autor “nada deve parecer natural”.
Apesar de ser escrito a significativo tempo, “O analfabeto político” ajusta-se facilmente ao contexto atual. Brecht tratou de uma tema, que perpassou anos e quilômetros de distancia e que ainda caracteriza-nos enquanto sociedade.
Analfabetismo político é pensar poder ignorar tudo que o sujeito encontra a sua volta, não importa o grau de escolaridade que o caracterize. É não reconhecer que na complexa rede social na qual nós seres humanos estamos inseridos, ninguém está isolado. Além disso, é justamente pelas premissas desta organização de vida em sociedade que a neutralidade mostra-se inalcançável. No entanto é bem mais fácil se esconder atrás dessa ideia de que política e vida cotidiana, sujeitos “comuns” não podem ser associadas.
Ademais, estufar o peito e lavar as mãos, enquanto aquele que não quer participar, retira do sujeito o direito de criticar, ou mesmo, de achar ruim. Esta é a premissa da vida em conjunto. Para todo bônus há um ônus, para todo direito há um dever. Virar as costas, odiar a política é descomprometer-se com o mundo e assumir a própria culpa diante da incapacidade e da falta de dignidade que nos acomete, não só economicamente, mas culturalmente e moralmente.
Conformar-se com a situação, cruzar os braços diante dos problemas, redimir-se do papel politico de pensar e lutar é o primeiro passo para a desistência da vida e do poder de pensar.
O que nos caracteriza enquanto humanos, é a capacidade de raciocinar, pensar e sentir. Se não falamos, não ouvimos, não reivindicamos, não analisamos ou não refletimos, logo, não será necessário pensarmos, nem tão pouco, conhecermos, sentirmos, ou então, existirmos.
A existência requer inteligência, requer participação. Existir é genuinamente um ato político. Tal ideia é a que Brecht tenta mostrar no referido poema, enquanto uma obra antiga, porém, atual, contextualizada, porém expansiva, agressiva, porém comprometida, de fácil leitura, porém interpretação profunda.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BRECHT, Bertold. "O analfabeto político". Disponível em: http://www.emuzambinho. org.com.br/da/jornal/edi01/analfa.htm. Acesso em 23 de maio de 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário